O PERDÃO ALIVIA A ROUQUIDÃO DA HUMANIDADE
Abri o dicionário. Ppppppp… Perdoar: remissão de pena. Absolver, desculpar, esquecer. Esquecer? O perdão tem conexão com a memória? Ui, algo não está muito bem!
Luísa Rosmaninho
10/30/20243 min read
Abri o dicionário.
Ppppppp…
Perdoar: remissão de pena. Absolver, desculpar, esquecer.
Esquecer?
O perdão tem conexão com a memória?
Ui, algo não está muito bem!
Da minha boca sempre ouvi a sentença irrefutável:
Tantas vezes verbalizei esta…heresia?
- Porquê?
- Para premiar convicções pessoais.
Para fazer chantagem.
Para alimentar o ego ditador.
Para legar em testamento uma culpa impossível de resgatar…tatuar a ferida em mim e nos outros.
Perpetuar!
Mirrar com a moléstia incubadora da tristeza!
Agora podem perguntar…
Vá, estou à espera…se fosse ao contrário, não é?
Se fosse ao contrário?
Impressionante!
Ajoelhada, implorava:
- Desculpo, mas perdoar? Nunca!
- Queimem as fotografias!
Queimem as provas!
Absolvição, por favor!
Ahhh…lá está…
O perdão tem conexão com a memória.
No fundo, reconhecia que “errar” faz parte da condição humana.
- Não, não! Desculpa! Só tu eras digna de tal benefício.
- Pois!
Na Constituição da República Portuguesa tem assento o princípio da igualdade.
Luísa, tu que és o arauto dos direitos humanos,
vê lá se mudas qualquer coisa!
Certo!
Todos!
Todos merecem uma segunda oportunidade.
Este é o mandamento proferido em decreto régio.
Gostam de cinema?
Curta-metragem.
Luzes apagadas. Pipocas. Vamos lá…
Em janeiro de 2015 eu e o Telmo decidimos louvar o berço das nossas raízes.
Foram lançadas as primeiras sementes do projeto há muito desejado.
Dois meses depois, a Primavera trouxe mudança.
Recebi um convite.
Hummmm…dois caminhos…ficar ou partir.
Podia recusar?
Podia, mas a escolha foi outra. Fiz as malas.
A lavoura ficou entre parênteses.
Houve alguém que não gostou. Porquê?
Porquêêêê????
Veio a conversa diabólica!
Os meus tímpanos…esquartejados!
Palavras uivadas em escala de sol menor!
Guardei-as em lugar seguro.
Sabem o que aconteceu?
Tempos e tempos a carregar um poceiro de pedras.
O Universo conspirava encontros:
…ui…que vontade!
Rrrrrrrrrrrrrrrrrr
Raiva! Ainda assim:
- Olá!
Com uma pedra na mão, dizia “olá”! Exibia superioridade?
Vês, tu ofendeste-me, mas aqui estou eu!...
Esqueci-me da voz dele!
O Universo conspirava…
Pulmões trémulos e pedra na mão:
- Olá!
Hipocritamente perfumava a atmosfera.
O Universo conspirava…
Cansei-me!
O vulcão adormeceu.
Lábios cerrados!
Olhos no chão!
O meu pensamento…
Pensamento? Não!
Julgamento!
O meu julgamento era o glaucoma da consciência sensata.
Será que ele não percebe? Nem sequer tem coragem para pedir desculpa!
Anos à espera!
A mudez atiçava qualquer coisa…lava a fervilhar?
Talvez!
Uma canção veio ter comigo.
Título – Perdão.
Ouvi, ouvi, ouvi.
Ouvi vezes sem conta.
Um dia… Escutei.
Pedir perdão a quem não consigo perdoar!
Como é possível tal proeza?
Ouvi, ouvi, ouvi…comecei a mastigar…
Ouvi, ouvi, ouvi…digestão difícil!
A traça da ganância esburacou a honra do compromisso jurado.
Preciso de pedir perdão!
Com reverência, preciso de pedir perdão!
Criei expectativas na vida do meu amigo.
Ceifei uma aliança.
Eu sou a vítima?
A que propósito?
Dei conta da súplica diária:
- Pai Nosso… Perdoa as minhas ofensas, assim como eu perdoo a quem já me ofendeu.
Ahhhhh…
Eu peço perdão, mas sei perdoar? Sei ou não sei?
Neste caso é muito mais do que isso. Vai além do perdoar.
Como posso ousar atirar a primeira pedra?
Magoei.
Rasguei.
Ignorei.
Quero varrer este lixo da memória.
- Espera, espera! Qual lixo?
- As palavras que decidi guardar!
- Só isso?
- Não! Retirar a queixa. Foi apresentada sem qualquer razão!
Ergui a bandeira da paz. Roguei ao Universo!
Conspiração?
O encontro aconteceu!
Sim, tiritava…
O coração, o estômago…as cordas vocais…
Sem qualquer ensaio, foi tricotado um novo ABRAÇO.
O melhor abraço de sempre.
O abraço depurador, embrulhado com uma lágrima rejubilante.
As nossas vozes voltaram a dançar.
Não quero o poceiro de pedras!
É muito pesado!
Tanque, sabão azul…esfreguei com vigor… as nódoas da presunção!
Perdão!
Aprendi a perdoar?
Aprendi a limpar, a absolver, a reconhecer, a dar e receber, a entender.
Não foi só o cérebro que ficou aliviado.
Eu fiquei leve!
A minha pele ganhou luz.
A minha alma conquistou vivacidade, paz, alegria!
Arrependida? O tempo é bom aliado e o passado um professor doutorado!
Estou feliz!
AMO-TE VIDA!
Amo crescer! Amo aprender!
Amo libertar-me e libertar quem me rodeia.
Libertar…está na hora, não é?
Ide!
O que levam na mão?
Uma flor?
autora@luisarosmaninho.com
Segue a Caça ao Tesouro da Luísa e DESCOBRE COISAS IMPORTANTES!
Email: