Um conto sem nome (ainda)… qual é a tua sugestão?

Um conto sem nome (ainda)… qual é a tua sugestão?

O Sol espreguiçava-se…
Ninguém me contou…eu vi.
Olhos abotoados com a transcendência do inexplicável.
Usava vestes soltas e compridas.
Venerou o nevoeiro, abraçado pelo orvalho tonificante!
Mergulhou no silêncio engolido…
Cajado empunhado.
Beijou e colheu medronhos.

Pé ante pé…fui espiando…

Mais medronhos…
Hortelã…
Cardo-Mariano.

Kundalini, saltitante, carregava o cesto!

Qualquer coisa seduzia a minha condição de aprendiz.
O homem berço da magia?

Voltaram para trás.
Tomei o mesmo caminho.

Esperei uns instantes…espreitei…havia claridade!
A caverna das borboletas douradas.
– Kundalini?!
Roçou-se nas minhas pernas, convidando-me a entrar.
Eu vi…
Viviam em comunhão.
Nada era de ninguém.
Tudo era de todos.
Regras não eram déspotas. Suplicavam amor batizado com respeito.
Não havia tribunal ou juiz.
Havia um mestre…
Vestes soltas e compridas.
Era cego.
Cego!
Aqueles olhos abotoados com a transcendência do inexplicável?
Cego?

Cego. Só via a luz das borboletas.
…tanto mais intensa, quanto mais as crianças riam, cantavam, brincavam.
Os amadurecidos fiavam…casulo a casulo…
…o ninho…
… a tentação e a origem do pecado.
Partos prematuros? Não! A todos era rogado.
As borboletas morreriam.

Sete anos de escuridão.
Tudo definharia…sem louvores ao perdão…nem sinal de ressurreição!

Alguém tocou em mim!
Declamou:
– Aqui podes viver.
Aqui, em toda a existência, a luz não sabe o que é adormecer!

Saí…

Borboletas…
Partos prematuros…
Sete anos…

– Kundalini?!
Fitou-me ou enfeitiçou-me?!

Tirei as botas, a mochila, o chapéu…
Andei…

Aromas enlaçados em cores saciantes.
Calêndula.
Funcho.
Gilbardeira.

Rosmaninho.

Todos!

Esquilos.
Corujas.
Caracóis.
Raposas.
Rolas.
Cucurru!

Sons orquestrados adubavam raízes.

Árvores.
Árvores com coração.
Árvores que dançavam…braços, mãos, dedos compridos…
Outras, com dor, choravam.
Árvores mães embalavam os filhos.
Árvores mensageiras.

Eu ouvi:
– Sente a brisa, abre o peito e vai…
Vai como o pintassilgo.
O veado.

A cobra.
O riacho.
A papoila.
Vai!

Lágrimas gritavam a esperança anorética!

Sentei-me.
Senti.
Pálpebras cerradas.
Pernas abraçadas.
Costas direitas.
Respirei fundo.
Fundo!
Da planta dos pés ao útero terreno…cresciam…
Nascidas no céu, outras raízes…
Sustentavam a minha cabeça…sustentavam o bosque…a caverna
…sustentavam tudo…em todos!

Senti.
Limpei o rosto.
Sorri.

Confiança.

Segurança.

Fui.
Não sabia para onde, mas fui.
Aquela caverna atiçou…
Erupção!
Vulcão!

Senti.
Estaria a sonhar?

Bosque da salvação!
Sonhar!

– Que estrondo é este?
Caí?
Um arroto?
Kundalini, por favor! Coelho tonto!
Eu estava a dormir!

Vou escrever, não quero esquecer.
Eu vi!
Eu vi…
Tudo em todos, todos em tudo!

Será possível? Respeito a rimar com amor?
Eu vi!
Eu senti!
Reconheci raízes.
Ensinavam.
Apoiavam.
Alimentavam.
Inspiravam.

Vou cavalgar!
Uma bandeira hastear!
Eu quero lá ficar!
As árvores têm raízes.
As árvores sentem.
As árvores dançam.
As árvores choram.
As árvores, também, falam.

As borboletas são douradas.
São a luz da minha peregrinação!
Reconciliação!
Exultação!
Em júbilo, glória!

Todos!
Um!

Mostrar 2 comentários

2 Comments

  1. Miguel Cravinho

    Bom dia, Alegria!
    O título é evidente: Eu vi…
    Tudo em todos, todos em tudo!

    Gosto desta sopa de legumes. Tem tudo. Todos os sabores identificam-se e só fazem falta os que lá não estão. Não se impõem. Convidam a língua a dançar com a papilas no aconchegante salão da boca.
    Usas palavras como flashes de luz produzindo fotografias imaginárias de memórias pessoais. A tua e a de cada um quem lê. Tudo em todos, todos em tudo!

    Obrigado pela partilha.

    • Luísa Rosmaninho

      Abraço❤️te!
      Obrigada pelo nosso encontro.
      Obrigada por estares aqui!
      As tuas palavras pulsam e vibram.
      ❤️

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *