Os erros e a sabedoria andam de mãos dadas pela vida fora

“NÃO SE DEIXEM DESENCORAJAR POR UM FRACASSO, DESDE QUE TENHAM DADO O VOSSO MELHOR” MADRE TERESA DE CALCUTÁ

Luísa Rosmaninho

12/27/20236 min read

Com o pensamento mais limpo, era cada vez mais fácil verificar que tinha andado embriagada com a terrível poção do medo de errar, medo de não agradar, medo de não ser boa pessoa, medo de me enganar, de não conseguir cicatrizar feridas e aprender coisas novas.

Em miúda, sem nunca ter provado, dizia que não gostava de feijão.

Já era sinal de resistência à novidade. Sinal de julgamento sem qualquer fundamento ou comprovação factual.

Também dizia que não gostava de jogar xadrez. Mentira! Eu não sabia jogar xadrez. Por que razão não pedi ajuda para aprender? Com medo de ser gozada? Até ao momento nunca tive o gosto em conhecer as personagens de tal jogo. Nunca tive o prazer em dizer xeque-mate!

Enfim…

Na Escola Primária, fui chamada ao quadro para resolver uma conta de dividir. Detestava tais operações. Gostava mais de multiplicar e somar! Ih ihihihihih!

Estive, seguramente, uns vinte minutos a olhar para o quadro. Na mão direita o pau de giz, na mão esquerda o apagador.

A Senhora Professora, já cansada:

- Então Maria Luísa, estás à espera que seja eu a fazer?

Bom, a verdade é que os nervos empurraram o xixi…era tanto! Mais parecia que tinha puxado o autoclismo! O chão de madeira acusou a minha fraqueza e claro que foi risota total pela turma inteira.

Nos dias seguintes tremia de medo só de pensar que voltaria a pisar aquele estrado.

Na adolescência, em férias, ouço o alerta:

- Atenção, evacuação total e imediata do Parque de Campismo. Risco iminente de incêndio destruidor.

O coração parou! Desorientação! Perdi-me de todos. Só tive tempo de pegar na carteira da minha mãe e fugir. Puro instinto de sobrevivência!

Gritos, muitos gritos. Confusão. Pânico. Respirava-se aflição…e se as botijas começarem a explodir?

Tempos e tempos que não podia ouvir a palavra “fogo”!

Noites em claro sempre que havia notícia de tal flagelo rondar terras perto de mim.

Mais velha, conheci a Leslie, lembram-se?

A marquise lá de casa ficou completamente destruída.

Estava sozinha, sem luz, sem telefone, sem vizinhos.

O vento destruía tudo à minha volta…os vidros partiam-se, a água soluçava no lavatório da casa de banho. As portas e os estores abanavam de forma assustadora.

O ruído da tempestade zangada ficou nos meus ouvidos, no meu sangue, no meu coração, na minha pele!

Conheci a perfeita impotência! A mãe Natureza é que manda!

Para mim foi traumático. A partir daí, ouvir ventos fortes provocava um sentir tenebroso que congelava o meu pensamento. Só queria fechar-me em casa.

Aliás, com a previsão da tempestade xpto, entrava, automaticamente, em estado de choque!

Resolvi pedir ajuda especializada. Demorou, mas fui na hora certa!

A terapeuta disse que eu podia falar com o medo como se ele estivesse à minha frente. Perguntar o porquê da sua existência e olhar as circunstâncias que o despertaram.

Pode parecer completamente estapafúrdio…falar com o medo?

Custa experimentar?

Custa!

Custa experimentar coisas novas.

E não foi logo na primeira consulta que o consegui fazer.

Falar com o medo? Enfrentar a embriaguez que toldava a minha visão?

Sempre fui resistente à mudança. À minha mudança, à mudança dos outros e, principalmente, à mudança imposta pelos outros.

Ui, às vezes só me apetecia fugir…

No trabalho, por exemplo. A receção de novas diretrizes superiores, era motivo para ficar de mau humor o dia inteiro. Um peso na cabeça, o coração irritado…momentos pincelados de stress intenso. Depois vinham os desabafos, ou melhor, discursos insultuosos, completamente desprovidos de bom senso e coerência! Tudo tóxico!

Mas sabem uma coisa?

Comecei a falar com o medo…

Mais, declarei-me inocente.

É normal ter e sentir medo, mas ele não me pode bloquear, nem algemar!

Segui o conselho:

- Medo do vento, porque existes? O que provocou o teu nascimento?

Em que contexto estava eu inserida? Qual o cenário? O que é que eu senti?

Que soluções, no momento, fui capaz de criar?

Sofri alguma fatalidade?

Depois de várias conversas, de olhar para mim, para as circunstâncias, para o meu comportamento… Consegui entender, perdoar e avançar.

Respirei fundo, pois percebi que, afinal, soube reagir na medida certa, dando o meu melhor em cada fração de segundo que vivi.

Hoje, mesmo quando o vento sopra e assobia ao meu ouvido tísico, já consigo dormir. Claro que fico alerta, aciono a prevenção, mas de forma relaxada e confiante, pois sei que, no momento certo, tomarei as medidas adequadas.

Consegui transformar o medo em bom conselheiro!

Este “senhor” ajudou-me e ajuda-me a estar mais atenta, a estudar os meus passos, a preparar-me com mais firmeza, qualquer que seja a situação.

Sem consciência, foi o que aconteceu quando era miúda. Realmente não sabia fazer contas de dividir. Fiz xixi à frente dos colegas todos. Tremia só de pensar que a Professora voltaria a chamar-me ao quadro.

Pedi ajuda à minha avó e comecei a treinar, treinar, treinar aqueles cálculos que irritavam até as unhas dos meus pés.

Aprendi a dividir…tanto que hoje adoro partilhar! Dá vontade de rir, não é?

Boa! Coloquei o medo no seu devido lugar.

E assim deverá continuar.

Mais ou menos como os erros!

Puxa, a minha vida parece que foi esculpida com a picareta da tentativa-erro.

Eu errei (e erro) imenso!

Lá atrás, no momento em que cometia o “delito pecaminoso” a minha mente hibernava no casulo da angústia nauseante!

Andava dias, dias, dias a navegar pelo fracasso sentido, eventuais consequências e sentenças capazes de decapitar a minha alma!...lá vem o julgamento!

De vez em quando tropeço. Só de vez em quando? Ótimo!

Como já disse, em miúda não aprendi a jogar xadrez. E ainda hoje não o sei fazer.

Valeu a pena não errar?

Não, porque não aprendi uma coisa gira. Por outro lado, percebi que não posso deixar de experimentar com medo de errar. Olha, uma boa lição!

Para mim, tal como o medo, o erro pode ser um excelente mentor.

Fui por ali e não deveria ter ido?

Pronto, para a próxima vou pelo lado oposto…

Hoje, saber errar é espetacular, permitir-me errar é fabuloso.

O erro tem sido um mapa para eu encontrar o caminho, o que é incrível.

Mas mesmo no sítio “errado” é possível aprender qualquer coisa!

Atenção menina Luísa, é favor andar de olhos atentos e espertos.

Caso contrário, continuarei a errar, errar e mais errar, sem nada acrescentar e…lá vou eu até ao precipício!

Sem estar à espera arranjei dois aliados – o medo e o erro!

Aos poucos percebi que a vida oferecia muletas fantásticas. Só era preciso saber usar e aproveitar tal apoio.

Só que caía e caio tanto! Podem rir!

Não sei andar de muletas? Se calhar não. E sabem porquê?

A pressa!

Apesar de já ter reduzido bastante a voltagem, as minhas pilhas ainda bombam a um nível muito elevado!

Tantas vezes estou a fazer uma coisa e já a pensar na próxima. Deixo tarefas a meio porque a genica exagerada coloca-me lá mais à frente. Que correria!

Qualquer dia nem me deito, só para tudo ficar arrumado antes do Sol voltar a acordar.

Agora imaginem a cena: hora do lanche, pão na torradeira do século passado sem temporizador nem alarme…

Para não estar ali especada de braços cruzados, descarrego a máquina da loiça, mas, entretanto, olho para os vasos que precisam de ser regados…

Aiiiii….o pão…estorricado!

Claro que me rio destas asneiras!

Sempre que penso na imensidão de tarefas que tenho pela frente, sabem quem começa a minar as minhas entranhas? Conhecem uma bactéria de nome ansiedade?

Preciso mudar aqui qualquer coisa, concordam?

Preciso continuar a respirar fundo.

E quando o dia assim começo…a respirar fundo, a alinhar-me, a implorar por concentração…tudo toma um rumo espetacular e bem sereno. Por mais extensa que seja a lista, ainda faço mais coisas do que as planeadas e fico com tempo livre para…não fazer nada!

A minha saúde melhorou, substancialmente, desde que aprendi a parar. Verdade!

Parar! Preciso saber parar ou então reduzir a tal lista. E lembrar-me disto?

O foco! Adorava que fosse constante.

Disciplinaaaaaaaa! Fica comigo, por favor!

Vou fazer um apanhado:

Com a dissecação do meu pensamento, a descoberta da minha uniqueness, perdoando ao medo e aprendendo com os erros, abracei a aceitação da persona que em mim habita.

Aceitação?

O que é isso?

Pronto, eu sou assim. Eu gosto de fazer isto e aquilo. Eu gosto mais disto do que daquilo. Eu estou melhor aqui do que ali.

Eu gosto mais de andar descalça do que usar botas de salto alto…

E inúmeras conclusões começaram a ser arrumadas nas minhas gavetas.

Cresceu o respeito pelo meu EU.

Será que consegui livrar-me do maior e mais castrador inimigo? Eu própria?

Isto hoje já vai longo! É melhor ficar por aqui. Volto em breve!