O CAMINHO FAZ SEMPRE SENTIDO

Comecei a olhar lá de cima para observar, analisar, relativizar. Sabem o que vi? Que estava a rejeitar-me, com medo de ser criticada.

Luísa Rosmaninho

10/23/20233 min read

Comecei a olhar lá de cima para observar, analisar, relativizar.

Sabem o que vi?

Que estava a rejeitar-me, com medo de ser criticada.

Até a forma de vestir era condicionada. Aderia às modas coletivas porque era mais fácil, mais seguro. O modelito ficaria aprovado, de certeza absoluta.

Tudo o que eu usava precisava ser exuberante! Provavelmente para esconder a minha fragilidade. Chamava a atenção, mostrava-me, mas era mesmo só aparência!

E já se sabe, “aparência não é essência”!

Até para ir à praia os chinelos eram de salto alto…ih ih ih ih!

Nas saídas noturnas, o corpo era espremido em roupas que mais pareciam um espartilho. O meu sangue ficava paralítico! Podem rir!

Quando chegava a casa nem sentia os músculos…e os pés?…que dores!

Vivia em esforço.

Percebi, também, que não tinha a certeza do que sentia. Não defendia as minhas emoções ou sentimentos. Questionava constantemente: será que sou exagerada? será que estou certa? será que não estou a ver bem as coisas?

Detestava a forma como tratavam o meu ser, mas, mesmo assim, insistia em algumas companhias, sítios, hábitos, ou melhor, vícios.

Chegava a alimentar relações doentias só porque…nem sei. Talvez fosse melhor estar zangada, do que não ter ninguém.

Talvez fosse melhor andar irritada e discutir por tudo e por nada, do que estar só!

E ali ficava…prolongava os maus tratos. Pegava no chicote e batia nas minhas próprias costas!

Ahhhh e fazer as pazes era sempre tão bom!

Será que tinha medo de mudar, de ser órfã de amor? Mas qual amor?

Outra das minhas preocupações era mostrar a mim e aos outros que tinha valor, que era capaz de qualquer coisa.

O que eu sofria…

Comparava a minha vida com a vida dos outros e, como não era igual, como não estava a dar cumprimento à “normalidade do ciclo normal” – passo o pleonasmo!...ficava doente! Claro que esta “normalidade” era uma premissa construída pelo meu julgamento.

Toda a gente já tinha casa, filho, emprego fixo…e eu?...nada!

Para mim, todos eram felizes, porque tinham uma vida “normal”. Eu? A infelicidade e vergonha em pessoa, que não prestava para nada!

Ah, depois também tinha a mania da perseguição. Achava que gozavam comigo, que falavam mal de mim, que desejavam a minha destruição – pensar isto tudo dá trabalho e desgasta…quase tanto como ir correr a maratona! Mais, envelhece! Sim, sim as rugas aumentaram! E as doenças, também. Apareceram massas estranhas em várias partes e órgãos do meu corpo.

E passava a vida a procurar… Procurava, procurava, procurava…e não dava conta do que já existia e muito menos do que vinha ter comigo. Porque procurava, procurava desmedidamente! Procurava de fora para dentro, por isso, era impossível encontrar!

Distração completa.

Não via quem era, nem a felicidade que a vida colocava à minha disposição! Não conseguia entender o que era para mim. Pudera!...este “mim” não se olhava ao espelho.

Para mim não era fácil arrumar gavetas! Não era fácil trabalhar o desapego, mesmo das coisas que me faziam mal. Não ouvia, verdadeiramente, os conselhos dos outros. A minha teimosia, comodismo, julgamento, medo do desconhecido…tudo me prendia à estaca zero.

Mas ter coragem para ver tudo isto levou muito tempo…

Só consegui olhar-me, graças à capacidade de “fechar os olhos”, e voltar a atenção cá para dentro.

Parecem duas coisas esquisitas, mas, no meu caso, foi o remédio ideal.

Nas aulas do yoga ouvia dizer que era possível conviver com o melhor que já existia em mim…só que eu não via nada de bom!

Mas o facto de sentir tristeza, desconforto e frustração fez com que eu mergulhasse, sem saber, na minha alma ou essência e, devagarinho, desse início ao chamamento do tal “melhor de mim”.

Foi preciso chegar quase ao limite do abismo para ativar o botão da reação e começar a espevitar um ser mais saudável.

Lá está a tempestade a fazer milagres!...mas eu não via nada disso, ok?

Era o início da caminhada…longa!

Sabem do que precisava e continuo a precisar? Disciplina e paciência! Paciência com o tempo, que é sábio, mas eu sou uma apressada!

Continua…