AS EXPECTATIVAS SÃO MALABARISTAS QUE BRINCAM COM TOCHAS DE FOGO

Estar no presente e abrir o presente que a vida é! Será que consigo este milagre?!... Talvez!

Luisa Rosmaninho

3/27/20246 min read

Estar no presente e abrir o presente que a vida é!

Será que consigo este milagre?!...

Talvez!

Quando cumprimento a laranjeira lá do quintal, o tempo e o espaço transformam-se em estátua!

Sinto os pés na terra. As mãos acariciam a robustez do tronco.

Os batimentos do coração beijam a força que ali habita!

Lanço um sorriso aos pássaros que esvoaçam em honra da liberdade, entoando mágicos solfejos!...os ouvidos agradecem.

Cheiro a folha verde que desabotoa o renascimento.

Neste pedaço de vida, nada mais interessa.

Tão bom parar e contemplar. Esvaziar-me! Renovar-me! Alimentar-me com a energia maestrina do ser!

É lavar os olhos com gratidão!

É usar uma lupa que aumenta, gigantescamente, a realidade que foco!

- Ok, essa ideia da lupa é boa, mas o que andas por aí a espiar?

O que tens ou o que não tens?

O que queres ou o que é melhor para ti?

O que já existe ou o que ainda não chegou?

Os erros ou as aprendizagens?

As perdas ou a disponibilidade para receber novidades?

As preocupações ou as possíveis soluções?

Pronto, lá estão as perguntas provocatórias! Estava tão sossegada!

Para tirar teimas, peguei na máquina de calcular. Vale o que vale, mas aqui vai:

Trabalhei num sítio, cujo edifício só tinha duas ou três janelas. Era cimento sobre mais cimento.

Aquele ar claustrofóbico afetou o meu esqueleto e as artroses tentaram degenerar a hormona da boa disposição.

Trimmmmmmmmmm

A campainha tocou!

Desviei o olhar!

Afinal, ali ao lado, existia um pinhal. Era pequenino, mas tinha rosmaninho.

Na pausa da jornada explorava o reinado da sanidade física e mental!

Viva! Viva! Ar puro!

O foco passou a ser o pinhal.

Três anos voaram.

Convocaram-me para Lisboa.

Ao virar da esquina estavam os Jardins da Gulbenkian. A minha bola de oxigénio salpicada com pipetas de encantamento.

Pouco tempo depois, voltei a mudar de emprego.

Bingo!

Ganhei um bosque colossal para passear ou “marmitar”!

Hummmmmm…tudo foi crescendo. A lupa pode fazer coisas engraçadas! Será verdade ou ilusão ótica?

Com o yoga aprendi que a energia está onde deposito atenção.

Será que semeando atenção, a colheita tem tendência a multiplicar-se?

Quantas vezes?

É importante eu perceber isto, porque o habitual é queixar-me:

- Estou mal, mal, mal…

Absolvida de qualquer macacoa, fico muda e calada!

Está aqui uma equação meio esquisita!

Assim a prova dos nove não bate certo!

Já sei! Falta a tabuada dos pulos de alegria, das danças, foguetes, louvores e cantigas:

- Estou bem, bem, bem!

Concordam comigo?

Voltando aos cálculos, com uma nova parcela:

Lupa + Foco + Expectativas = Cuidado, Luísa! Estas meninas são malabaristas!

Adoro saltar, mergulhar, nadar de costas ou de bruços nas águas ondulantes do futuro que quer chegar.

Vestida de coragem, fui a um casting para apresentadora de TV.

Já estão a rir?

Não contei nada a ninguém.

Por causa do mau olhado? Não!

Queria fazer uma surpresa quando chegasse a notícia da vitória.

Gargalhadas?

Estava mesmo convencida de que ia ganhar.

Filmes! Fiz muitos filmes.

Não fui escolhida e chegou a frustração abraçada à tristeza!

Então a campainha? Não tocou? É provável que estivesse na gaveta do esquecimento.

A mania das arrumações pode pregar estas partidas!

Arrumações? Essa é boa!

Aposto mais no foco em ilusões!

Sem dúvida! Exagerei na criação fictícia e a revolta comprou bilhete para assistir, de camarote, ao regresso da depressão.

Sim, voltei ao clube dos míopes perdidos. Nas sessões de terapia, tomava a palavra com as habituais dúvidas ou críticas.

- Afinal, o que ando aqui a fazer?

- Sirvo para alguma coisa?

- Não consigo chegar a lado nenhum! Não passo da cepa torta!

A desvalorização trouxe o envelhecimento da esperança.

Andei a brincar com o fogo e queimei o guião da história que tenho para contar.

Felizmente, a campainha tocou sem cessar:

- Exploradora, o que tu queres, nem sempre é o que a vida tem para oferecer. Não fiques zangada!

Abre as mãos. No momento certo vais receber…até entender!

O observatório chamou-me. Lá de cima, descobri uma coisa importante!

A criação de expectativas implica a minha transposição para um mundo à parte da realidade.

Este mundo, pode não ser favorável à estabilidade emocional que tanto desejo.

Pois é! Nunca tinha reparado nisso.

Qual o remédio?

Afinar os travões da imaginação e da euforia sonâmbula!

Será suficiente?

Não!

O Sr. Dr. prescreveu-me um complexo vitamínico, muito difícil de tomar…aquele da marca registada ENTREGAR!

Ui!...custa tanto!

Entregar…

Entregar a minha disponibilidade, a minha vontade, o meu propósito… Entregar… Depois, logo se vê!

Entregar e não ouvir o ruído da ânsia em ganhar, em ter, em ser isto ou aquilo.

xxxxxxxxxxxxxx, silêncio!

Escutar o silêncio, estar em silêncio…

No novo dicionário lá de casa, silêncio também é sinónimo de não exigir, não julgar, não determinar ou não pedir.

Não pedir? Ainda não consigo!

Preciso tanto de orientação...para fazer o caminho! Então, peço!

Aproveito e solicito a vossa opinião.

  • · Qual a diferença entre criar expectativas e sonhar?

  • · Qual a diferença entre criar expectativas e pensar positivo?

  • · Sonhar é bom, não é?

Desde que eu não fique presa no vazio ou ausente do presente por tempo ilimitado.

O sonho é um arco-íris que inspira o músculo da esperança!

  • · Sonhar pode ser um estímulo?

  • · As expectativas pretensiosas fazem dói-dói?

  • · Sonhar é pensar positivo?

  • · Sonhar é abrir uma janela e esperar pelo perfume da Primavera?

  • · Alimentar expectativas é comprar o bilhete da lotaria e gastar o dinheiro antes do sorteio?

  • · Sonhar faz bem ao sangue?

  • · É bom pensar positivo?

  • · Será que o sonho nasce no coração e a expectativa na mente?

Com o coração escrevo o título do romance. Com a mente determino o seu “Fim”. Será?

São fronteiras difíceis de determinar. Estudar o mapa é uma boa opção.

A propósito…

Um dia peguei na mochila com destino a Santiago de Compostela.

Amei, digo já!

Não sabia, de todo, o que iria encontrar.

Calcei as sapatilhas da dúvida.

Onde iria dormir? O que poderia comer? Não sabia nada.

Ainda bem! Cada dia foi uma surpresa! Cada dia foi uma dádiva!

O cajado foi sempre apoiando o descanso do pensamento.

Fiz jejum das expectativas!

Não determinei horas, trilhos, experiências, pessoas, coisas, muito menos aprendizagens!

Cheguei ao primeiro Albergue. Na receção:

- Lamentamos, mas não há lugar para ti.

Com dores e cansaço, arrastei-me por mais 5km.

Bati à porta da D. Pilar.

Amorosa, por natureza, dava guarida a todos os peregrinos. Eu não fui exceção.

Tive direito a um banho de imersão.

Deliciei-me com um jantar cozinhado em carinho.

Dormi na cama preparada com lençóis de jasmim.

Ainda recebi um abraço que ficou para a vida!

Para quem não sabe, a maior parte dos alojamentos só oferecem almofadas, fronhas e beliches em camaratas mistas.

Nos balneários, “rapidez” é palavra de ordem.

O repasto? É o que está na lancheira ou o partilhado entre companheiros simpáticos.

Digam-me, tive ou não tive sorte?

Continuei, sempre envolvida por uma anónima proteção.

Fiquei mais forte!

Testemunhei, vivamente, a aliança que governava e governa a minha sobrevivência.

Também fiquei mais leve!

Profundamente inspirei o prána que separava e separa o trigo do joio, o essencial do supérfluo e o saudável do patológico.

A última etapa foi esgotante.

- Anemia! - gritavam os músculos.

O coração mirrava! O ventrículo esquerdo queria chegar, mas a aurícula direita preferia continuar…para não esquecer, que entregar rima com receber!

Como foi entrar na Catedral? Não sei!

A emoção indescritível despiu-me!...houve explosão ou renovação!... Não sei explicar!

Ajoelhada, prestei homenagem ao poder da confiança!

Chorei! Chorei tanto!

Chorei sem conseguir parar.

Chorei de felicidade, alegria, paz, consolo, amor…

As lágrimas agradeciam a perfeição de cada passo ou queda, de cada Luz que, do nada, resplandecia para indicar a direção certa.

Bon camiño!

Nada foi em vão. Nada é em vão!

Este foi o caminho que eu escolhi.

O caminho que eu encontrei…

Que eu senti…

Fiz…

Vivi…

Este é o caminho que eu aceito seguir.

Vou aconchegar-me! Adoro dormir a sesta.

Será que vou sonhar

Ficarão a saber…