A SABEDORIA DO TEMPO É O MEU ESPELHO PREFERIDO
Já sabem, então, como ocupava grande parte do meu tempo – a julgar que todos à minha volta eram melhores do que eu e tinham uma vida espetacular.
Luísa Rosmaninho
11/28/20235 min read
Já sabem, então, como ocupava grande parte do meu tempo – a julgar que todos à minha volta eram melhores do que eu e tinham uma vida espetacular.
Ahhhhhh, parece que sinto aqui alguma dor de cotovelo!
E não é que era mesmo! Eu invejava a vida dos outros. Sem conhecer o que cada um tinha na sua existência… invejava.
Desconhecia o que é que fulano ou beltrano precisavam lutar para serem a luz e sorte que eu via.
Mas “invejava” o sucesso, a alegria, a abundância, mesmo que só aparentes.
Contudo, eu não queria sentir aquilo. Não queria ser invejosa. Eu queria era ser feliz!
Só que continuava escondida no meu pensamento viciado, dedicando-me a fazer de tudo para agradar aos outros.
Porquê?
Medo da crítica.
Pensava que não iriam compreender as minhas opções, escolhas ou vontades.
Desejava tanto sentir sucesso e satisfação, mas temia não receber aplausos pela caminhada.
A minha formação académica é o direito, mas eu amava e amo o palco!
Há uns anos fiz teatro amador. Mas, temendo o julgamento alheio, em dia de ensaio, dizia que ia passear a Tootsie.
É verdade, tive como cúmplice a minha fiel amiga de quatro patas. Ela ia comigo. Fazia-me esse grande favor! Às vezes eu abusava do seu companheirismo e claro…ladrava, ladrava…queria rua…mas eu precisava ensaiar! Conseguem imaginar a cena?
Dentro de mim existia a certeza de que iriam criticar a minha opção – trocar o direito pelo teatro?!...ummmmm… Então, mentia.
Tudo por causa do pensamento…ou melhor, do julgamento.
O que é certo é que nunca abracei a causa artística porque em mim coloquei umas algemas!
Mas até nas coisas mais corriqueiras, eu era doutorada em especulações. Se não obtivesse resposta imediata a uma mensagem ou telefonema, a minha mente criativa gerava, de imediato, um drama digno de encenação no Rivoli.
Imaginava certezas, cenários obscuros e tristes que em nada correspondiam à realidade.
Reparem bem o que germinava no meu ADN – inveja, mentira, medo, dúvida…tudo coisas boas, não acham?
Porque é que eu inventava o pensamento dos outros? Como se fosse possível entrar na cabeça deles!
Estava sempre, sempre, sempre a pensar em coisas que não eram nada boas!
Para agravar a situação, avaliava os outros com as mesmas notas com que me avaliava a mim. Isto é, sem dar conta eu era invejosa, então via inveja em todos.
Sem me importar, eu mentia, então via mentira à minha volta.
Mais, não gostava como me tratavam, mas pagava com a mesma moeda.
Para além de desenhar os outros à minha própria imagem, chegava a ser como eles eram para mim.
Das duas uma – eu julgava ou sabia que traíam o meu ser? Eu também traía.
Mentiam-me, então eu fazia o mesmo.
Pura reação!
Entrava no carrossel viciado e ferrugento! Voltas e reviravoltas. Ficava completamente enjoada com tanto enredo.
Como não tinha medo das alturas, só faltava mesmo tentar atirar-me da Boca do Inferno, desejando que as águas agitadas do mar purificassem a minha alma!
Mas, apesar de estar à beira do precipício, desejava salvar-me. No fundo, no fundo, eu ansiava pela mudança.
O meu coração batia ao ritmo da colcheia da esperança – amanhã vou ser melhor do que hoje.
Chegou a hora de mergulhar a pique!
Conscientemente, surgiram perguntas.
- O que é que eu penso? Porque é que eu penso assim?
Porque é que penso que não mereço alcançar os meus sonhos? Porquê?
Porque é que eu penso que não consigo?
Porque é que passo tanto tempo a pensar no pensamento dos outros?
Apareceu o Human Design que me ensinou a fazer mais uma pergunta:
- Faz -me bem pensar assim?
Não?
Então não vou pensar nisto, vou pensar naquilo…e invertia, transportava a atenção mental para coisas práticas – que roupas separar para dar ou reciclar; o que preparar para o jantar; como organizar o trabalho para amanhã; o que fazer nas férias…
Esta foi uma grande lição - inverter a forma de pensar.
O ato é o mesmo – pensar, só que em coisas diferentes.
Abracei a disciplina e instalei uma campainha na minha cabeça.
Surgindo ideias “sangrentas” para mim ou para os outros…trimmmmmm!…e chamava imagens de paz e alegria.
Estava na hora de mudar o alimento envenenado que apodrecia a minha essência.
Percebi que era urgente sossegar, ou até eliminar algumas preocupações, hipotéticas intenções e opiniões.
Sentada ou a passear comecei a ouvir a sinfonia melodiosa dos pássaros, da água, do vento…do silêncio.
Até no meio da cidade eu conseguia ver e ouvir um pardal, uma rola, ou uma cigarra…ou deliciar-me com as folhas estaladiças caídas no chão…quem não gosta?
Esta atenção podia ser por poucos segundos, mas era o suficiente para aliviar o stress e angústia mentais.
Dar conta destes milagres da Natureza, também contribuiu imenso para aumentar a minha concentração. Comecei a reparar nas coisas que fazia em cada momento.
Agora estou a lavar os dentes…
Agora estou a passear na floresta…
Agora estou a comer…ummm que sabor delicioso….desliguem a televisão, por favor!
Agora estou a massajar o rosto…
Agora estou a ouvir o sossego…
Agora estou a correr…os músculos, a respiração…
Sem saber, aumentava a capacidade de foco.
Acreditam que até comecei a ser mais ágil no trabalho? Verdade!
Em menos tempo, fazia muito mais.
Outra coisa que descobri…as minhas convicções.
- Ahhhh, eu estou a ser o que os outros querem que eu seja?
Então e a minha originalidade?
Eu sou única? Não existe mais ninguém igual a mim?
E não estou a ser quem eu sou?
Não estou a dar o meu melhor?
Pois é…
Mais perguntas:
- Tu queres seguir o mesmo caminho das outras pessoas? Não?
Então que tal fazeres as coisas que gostas? E o que é que eu gosto?
Foi doloroso olhar no espelho e perceber que eu já não sabia quem era, o que sentia, o que desejava.
Tempo, precisei abraçar o tempo.
Precisei tentar hoje, amanhã e depois de amanhã, e depois, e depois…
Quando ouvi “Fix You” dos Coldplay …UAU!...é mesmo isto…fazia todo o sentido… se não experimentares, nunca vais saber quem és!
A força anímica foi fortalecendo a vontade em sentir paz existencial.
Comecei a afiar as garras para me livrar do sofrimento, da confusão e do descontentamento.
De dentro para fora, olhava atentamente para a minha cura, para o meu renascimento.
É verdade que precisava passar tempo a sós comigo mesma.
Ao início tinha a sensação que estava a ser egoísta, mas depois percebi que era amor próprio.
Curar-me e encontrar-me era o mínimo que podia fazer, por mim e por todos os que precisariam do meu “bom estado”!
Até porque, se gosto tanto de dar e partilhar, como posso fazê-lo se não estiver bem?
Todos os dias pela manhã ousava dizer:
Luísa, o Mundo espera por ti!
Eu sou responsável pelo que sou e pelo que chamo para mim.
EU SOU O QUE EU SOU
Concentrava-me no centro do peito e repetia vezes sem conta EU SOU O QUE EU SOU.
Comecei a gatinhar!...com disciplina e treino, muito treino!
Volto já…
autora@luisarosmaninho.com
Segue a Caça ao Tesouro da Luísa e DESCOBRE COISAS IMPORTANTES!
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