Miau…saltou…sexto sentido.
Tudo para o chão.
Ficou a mesa enlouquecida com sabores que só Deus sabe!
Outra vez…
Tantos jantares…
Tantas traições….
Não havia diálogo.
Não havia nada…
Havia!
Risos.
Brincadeira.
Sexo.
Paixão.
Havia tudo?
Havia.
Esturricado de vaidade insegura.
Evaporação de respeito, lealdade, paz e sossego.
Exibição do ego inchado!
– Ponto final.
Será?
A vida respeitava as voltas dos astros e…
Mais uma separação.
Mais uma tentativa.
Mais um jantar…
Mais uma separação.
Mais uma tentativa.
Mais um jantar…
Mais uma separação.
Mais uma tentativa.
Mais um jantar…
– Mais um jantar?
Como?
Tu queres cumplicidade.
Proteção.
Apoio.
Companheirismo.
Carinho.
Há tudo?
Como?
Como não falas dos teus intentos ou desejos profundos?
Vergonha?
Mais um jantar?
Veio para a mesa ainda em chamas!
Foi servido o desencontro do ser, que estava onde não vivia e de lá era urgente fugir.
Ardia.
Queimava até ao tutano.
Inferno.
Inferno que fazia a alma gritar, uivar, ganir por socorro…teimoso, não apagava as
chamas!
Horror.
Fogo que aprisionava.
Fogo!….
Fazia sucumbir.
Doer.
Desistir?
Enlouquecer.
Não, não gostava do sabor!
Era pesado, fumado.
Não.
Decidi.
Não quero mais jantar.
Miau…saltou…sexto sentido.
Tudo para o chão.
Ficou a mesa enlouquecida com sabores que só Deus sabe!
– Como não és tu, Luísa?
Como não falas sobre a secura da tua alegria?
Alfinetes de tristeza seguravam a bainha da conquista cortejada.
No estendal, com molas de silêncio, pendurava lençóis manchados com muitas dúvidas!
Via, sentia, permanecia!
Via, sentia, permanecia!
Recordo um sunset.
Ambiente incrível com pessoas incríveis.
Eu? Vestido branco…justíssimo…rachado até ao umbigo…texanas…super sensual!
Perdi-o de vista…
Escondido pelos cabelos de alguém que raptou a sua atenção.
Fiquei sem chão…
Pus os pés no chão…
Descalça…senti o chão e fugi…
– Como?
Receio a inexistência de novas companhias?
Onde está a minha sanidade mental?
Não posso desnortear a minha pulsação.
Ainda tenho esperança?
Medo de ser gozada?
Como, Luísa?
Aqueles olhos não são só para mim…
Submissão pode ser sinónimo de solidão…
Sim…a minha companhia é a solidão…
Interessante…não me sinto só!
Não estou no deserto.
Estou no bosque, com sons orquestrados a despertarem as raízes da razão.
Raízes…
As árvores têm raízes.
As árvores sentem.
As árvores dançam.
As árvores choram.
As árvores falam.
Ouço:
– Sente a brisa. Abre os braços e vai.
Vai com o pintassilgo,
o pardal,
o rouxinol,
o melro.
Deixa-te levar…confia…vai…
Fui!
Descobri.
Cogumelos, medronhos…
Esquilos, coelhos, cavalos…
Fui, descobri, colhi camomila, hortelã, cardo-mariano…
A minha companhia é a solidão, mas não me sinto só!
Mais um jantar…
Mais uma separação.
Mais uma tentativa.
Mais um jantar…
Mais uma separação.
Mais uma tentativa.
Mais um jantar…
Oito badaladas.
Estava tudo pronto.
O estômago tremia.
Os olhos vomitavam ansiedade.
O coração sentia um refluxo enjoado.
Miau…sexto sentido.
Enroscado na ponta da mesa, composta com uma delicadeza pronta para receber
vocábulos duros de roer.
– Posso?
A porta estava encostada.
– Sim, claro. Entra.
Sem toque… Magnetismo em fúria!
– O jantar está pronto.
– Sento-me, então. Aperitivos?
– Sim. Escolhe. Serve-te.
As palavras queriam perguntar, mas…
Vulcão…
Erupção…
As mãos roçaram-se.
Os suores congelaram.
Olhos nos olhos…
– Quero-te tanto!
A memória fez sinal…
Sente a brisa. Abre os braços e vai.
Vai com o pintassilgo,
o pardal,
o rouxinol,
o melro.
Deixa-te levar…confia…vai…
– Quero-te?! Com traição?
Ahhhhh…finalmente…
Às vezes, o lodo é o impulso para do pó renascer uma força imbatível…
– Quero-te, sim!
– Confessa.
Lágrimas manchavam o machismo enlouquecido com a ternura de quem tudo dá sem
nada esperar receber.
– Perdoa-me! Devaneio. Devaneio em nome do estúpido conceito que nem nome sei
dar. Provoco-te sem razão. Rego-te com mágoa sem intenção… Sigo o caminho às
cegas…até detesto traição!
Tu és incrível e fico inseguro.
Sofro com a tua beleza, firmeza…recebes palmas com admiração.
Fico inseguro.
Encontrei nesta postura uma tábua de salvação…
Afinal…ambos cegos, surdos e mudos!
Será?
Mãos…
As mãos puxaram os braços.
Os braços chamaram os lábios.
Mais lágrimas…
Doces.
Arrependidas.
Saudosas.
Ansiosas.
Desejosas de escorrerem…
…entre corpos quentes de fome e frio.
Miau…saltou…sexto sentido.
Tudo para o chão?
Não!
A mesa não ficou enlouquecida com sabores que só Deus sabe!
As vozes foram escutadas.
As peles sentiram compreensão.
As lágrimas confortadas.
Uma flor deixou perfume em cada coração.
Casamento?
Não.
Não havia enxoval.
Havia destino marcado…
Troca de recados.
Evolução.
Enriquecimento de existências.
Cruzamentos…
Nós deslaçados…
Aprendi.
Soltar a língua.
Seguir a verdade.
Confrontar sem ofender.
– Sem gritar ou exigir?
Sim! Sem gritar ou exigir.
Aprendi a vingar emoções.
Não fugir.
Aprendi…
…sem franqueza, abraços não existem.
Sofri, mas aprendi.
Respeito.
Liberdade.
Amor.
Partilha.
– Obrigada
Foi tão bom descobrir.
Fomos ondas e sopros para a metamorfose das nossas asas.
Fomos mestre.
Fomos aprendiz.
Obrigada!
É tão bom rir do que foi e não podia ter sido de outro jeito.
Não fica rancor.
Fica gratidão…válida para além de qualquer deserto, bosque ou montanha.
Texto fantástico Luisinha ♥️ continua!
Minha AMIGA💫❤️
Obrigada por fazeres parte da minha caminhada!
Mestre!